Nesta semana, o Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro iniciou investigações sobre as operações da XP Investimentos. Ainda em fase inicial, a apuração tem como foco as práticas conhecidas como Collar UI. Esta não é a primeira vez que a XP é acusada de irregularidades; anteriormente, já foi apontada como um possível esquema de pirâmide.
Segundo apuração realizada pelo Valor, o inquérito civil foi aberto a partir de uma representação feita por um consumidor. Conforme explicou um especialista ouvido pelo BeInCrypto Brasil, o Collar UI é uma prática que tem como alvo investidores de primeira viagem, em muitos casos, de perfil conservador. Em nota, o MPF confirmou a abertura do inquérito à reportagem.
Na semana passada, a XP Investimentos tentou barrar a veiculação de um vídeo de trinta minutos que a acusava de praticar um esquema de pirâmide. Produzido por Daniel Penin, o conteúdo tem como base um relatório da Grizzly Research que acusa a empresa de atuar em um esquema chamado Ponzi.
Quais são as acusações contra a XP Investimentos?
Segundo o chief compliance & legal officer (CCLO) da Frente Corretora, Carlos Henrique, as polêmicas têm pesos diferentes na estrutura do negócio da XP.
O esquema Ponzi só pode ser operacionalizado pela instituição. Mas, quando falamos do produto Collar UI, ele é individualizado, e quem executa é o assessor, não a XP, no caso específico, comenta.
Em resumo, o esquema Ponzi é caracterizado por ser uma fraude financeira. De acordo com o relatório da Grizzly Research, a corretora estaria usando o dinheiro de outras operações ou produtos para pagar o retorno financeiro de investidores anteriores.
Por exemplo, se o investidor A aplicou R$ 100 milhões na corretora com liquidação prevista para junho de 2025 e teve 20% de lucro, a corretora, caso atuasse de forma ilegal, pagaria esses 20% com os fundos investidos por um investidor B.
No vídeo, Penin enfatiza que a XP não atua apenas com produtos financeiros. Ela também opera em outras frentes, como a XP Educação, XP Advisory e corretagem de seguros.
Além disso, ele apresenta um gráfico com a rentabilidade dos últimos 12 meses dos principais bancos do Brasil. Enquanto bancos como Santander e Bradesco estariam no negativo, a XP Investimentos teria apresentado saldo de 120%.

No primeiro trimestre de 2025, a XP Inc. reportou o lucro líquido de R$ 1,2 bilhão, o que representa um crescimento de 20% ao mesmo período de 2024. De fato, houve o aumento de 24% no lucro por ação (EPS) em 12 meses.
Os bancos tradicionais integram a tesouraria no próprio negócio, inclusive a XP. No entanto, a maioria dessas operações ocorre no Brasil, o que implica na incidência de impostos. Para Carlos Henrique, a XP Investimentos não opera um sistema de pirâmide financeira. Pelo contrário, ela apenas identificou oportunidades no planejamento tributário.
Se ela consegue gerenciar os ativos e o lucro fora do Brasil, de certa forma, não haverá incidência de impostos aqui. E essa ausência de tributação aumenta seus resultados em comparação com outros bancos, o que dá a impressão de que está muito acima da média. Mas isso se deve ao modelo de negócio, e não a uma manobra ilegal. Existe uma tênue diferença entre fazer planejamento tributário e cometer fraude financeira, comenta.
O problema pode estar na ponta
De acordo com o site da XP, a empresa conta com mais de três mil assessores credenciados em cerca de 600 escritórios espalhados pelo Brasil. Isso significa que nem todos os negócios são fechados por funcionários diretos da XP.
Para Carlos, esse é o principal desafio no que diz respeito às acusações de Collar UI e outras irregularidades. Ele comenta que, na hora de fechar o negócio, um assessor pode tentar incluir produtos mais rentáveis para o escritório em carteiras de investidores menos experientes.
Quando alguém ganha na loteria, por exemplo, e busca assessoria, geralmente é um conhecido ou parente quem monta a carteira. Já investidores mais experientes chegam com a carteira pronta, diz.
Na acusação investigada pelo MPF do Rio de Janeiro, o Collar UI é uma espécie de seguro oferecido a investidores conservadores. Em caso de perda, o investidor assegura o recebimento de um percentual do capital investido. Contudo, se o investimento ultrapassar um determinado lucro, esse excedente não vai para o investidor inicial.
Às vezes, pela forma como o assessor vende esse produto – e essa forma é o ponto crucial – o investidor acredita que jamais terá perda. Pelo próprio desempenho do fundo, ele provavelmente teria mais ganhos. Vamos imaginar que um investimento atinja R$ 140 milhões e o limite seja R$ 105 milhões. A diferença, esse lucro, fica com o assessor, esclarece o executivo.
Outro ponto que faz da XP Inc. ser o alvo de críticas é o modelo de negócio baseado nos Certificados de Operação Estruturada (COE). Este é um produto que combinas investimentos, sendo utilizado por corretoras para captar recursos de clientes, o que pode gerar altas comissões.
Segundo Carlos, esse modelo de negócio funciona como uma bomboniere em um cinema.
A maior receita do cinema não vem do filme, mas da bomboniere. Quando você olha para empresas gigantescas, como a XP, acontece algo semelhante. Apesar do core da empresa serem os investimentos, ela acaba ganhando receita com esses outros produtos, de proteção do capital, por exemplo, explica.
O que a XP Investimentos poderia fazer para contornar esses dilemas?
Na semana passada, a empresa entrou com um processo pedindo a retirada do vídeo produzido por Daniel Penin, “XP Investimentos – O $ do Impossível”, que ainda está disponível no YouTube. Em nota, a XP escreveu:
A alegação de que a decisão judicial de retirar vídeos disseminando boatos e fake news se trata de censura é falsa, assim como o conteúdo produzido por esse suposto influenciador. É crime, previsto na Lei 7492, de 1986, disseminar boatos e fake news sobre instituições financeiras. A XP é amplamente favorável à liberdade de opinião, ao livre debate de ideias e ao exercício da crítica e da análise com responsabilidade. Mas não vai tolerar a divulgação de informações falsas que visam única e exclusivamente enganar os investidores e lucrar com isso. O suposto influenciador quer se utilizar da proteção da liberdade de expressão para caluniar, difamar e exercer prática criminosa, algo com que a Justiça não pode e não vai compactuar.
Para Carlos Henrique, a tentativa de censurar o filme de Penin pode ser interpretada como uma confirmação indireta das acusações.
Vamos colocar dessa forma: simplesmente censurar dá a impressão de que alguém está dizendo uma verdade que você não quer que seja dita. Se eu estivesse na posição, faria um investimento pesado na produção de um documentário próprio, explicando cada produto, onde a XP, o cliente e o assessor ganham e perdem, diz.
Sobre as investigações do Ministério Público, a XP Inc escreveu:
A XP reafirma seu compromisso com a transparência, a adequada classificação do perfil de investidor e o pleno cumprimento das normas regulatórias. Eventuais situações são tratadas com rigor, por meio dos canais oficiais e com total colaboração com as autoridades competentes.
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